quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sabotaram a Igreja

SABOTARAM A IGREJA

Sabotaram a Igreja
Antes de qualquer coisa quero pedir perdão a todos os que estão lendo esta reflexão neste momento. Como pastor de uma denominação histórico-tradicional, tenho vergonha de dizer o que irei expor nestas pequenas palavras. Meu coração está profundamente abatido com o que tenho ouvido e visto no meio evangélico em todos os seus seguimentos. Uma nuvem densa e sombria tem pairado sobre a chamada igreja pós-moderna. Relâmpagos e trovões têm atordoado meus pensamentos e grande parte disso diz respeito ao que estamos fazendo da fé cristã. Incluo-me neste pacote, mesmo porque sou parte integrante do emaranhado catastrófico que tem culminado em apostasia na vida daqueles que esperavam um pouco mais dos seguidores de Jesus.
Quando leio em 1 Timóteo 4.1,2: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência;” sou levado a acreditar que estamos vivendo este tempo. Quando olho para os lados sinto-me constrangido a pensar que fim teremos como nação que deveria ser santa, mas que há muito deixou seu alvo adormecer. Não consigo imaginar um cristianismo sem agápe, contudo é o que tem nos restado por enquanto. Sabotaram a igreja. Ela esta manchada, maculada, despida de vergonha. Suas rugas mostram sinais de que algo realmente não vai bem.
Quando digo que a igreja está manchada não estou me referido a igreja formada pelos salvos, mas as denominações em suas várias doutrinas partilhadas e contradizentes. A igreja militante, aquela que verdadeiramente segue o Mestre tomando a sua cruz diuturnamente, jamais será abalada pelas sabotagens que envolvem as organizações humanas e falíveis. É questão de fé, mas a falta de fé e de comprometimento com aquele que é a Verdade têm levado vários grupos religiosos cristãos a beira do anti-evangelho, que significa apostasia e alianças com príncipe deste século.
Perdoe-me os pastores sinceros e tementes, muito mais os crentes novos na fé, mas não posso me calar diante da esdruxula situação que estão deitando o evangelho da paz. Alguns líderes estão enclinando suas cabeças em traviseiros de pedras e se cobrindo em lençois de espinhos achando que terão o sono da justificação eterna. Quanto mais depravada a vida cristã, mais entenebrecido os sentidos que apuram o espiritual e santo do puramente carnal e profano. A impiedade é o caminho que se faz confundir o homem obstinado pelas várias formas da concupiscência deste mundo. Chega de acobertarmos a praga pestilenta que desejam incutir no meio da comunidade dos salvos. Se não clamarmos as pedras clamarão.
Pastores seduzidos pelo dinheiro. Nunca se viu tantos ministros ávidos pelo vil-metal. – “Socorro! Estão querendo me subornar”. Alianças estão sendo tramadas neste instante para que eu possa morrer de amor ao dinheiro. Esta é a hipérbole da triste realidade de nossas igrejas. Muitos pastores sérios em nosso país estão se corrompendo teologicamente para poderem justificar suas atitudes de torpe ganância. O problema é que uma nova geração tem nascido no erro achando que estão certos, mas na verdade estão sinceramente errados. Ainda em 1 Timóteo está escrito: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.”
A sabotagem é tão perfeita que o imperfeito tem estatus social. Quem não gostaria de ser prospero hoje em dia. Tenho certeza de que ninguém ousaria dizer que seu sonho é viver entre os pobres, comendo suas comidas, dormindo em suas camas, se é que se podem chamar de cama onde dormem. Estamos corrompidos, a sabotagem desalinhou o pensamento cristão. Ora, é inegável que Deus nos prometeu bençãos sem medidas, mas condicionamos-a ao dinheiro. O pensamente é este: “Sou filho do Rei e não posso padecer com problemas de saúde, familiar, muito menos financeiro.” Praga peçonheta que escraviza a mente do fiel, doutrina de demônio que engana e se deixa enganar os desavizados. O amor ao evangelho se tornou amor aos pseudo-frutos dos evangelho.
Os líderes midiáticos estão competindo entre si. Projetos megalomaníacos estão sendo traçados na ambição de perpetuar seus nomes. O nome de Jesus é apenas um pretexto para auto-glorificação. A simplicidade há tempos deixou de ser alvo na cristandade evangélica. A política secular com sua corrupção tem adentrado o seio da igreja e disseminado uma doença mortal, um cancer malígno ao ponto de corromper líderes eclesiástico sedentos de vantagens. Que terrível cena de terror, deprimente o que estão fazendo do púlpito. Curral eleitoral que transformam ovelhas em escravos de um sistema em plena decadência espiritual. Contudo, quem poderá suportar a clareza de um discurso confrontador?
Realmente a igreja deve ser um local de esclarecimento e crescimento pessoal. Nada impede que um cristão exerça o direito de se candidatar a uma posição política na sociedade, mas também acredito que o meu voto não pode ser jogodado no lixo pela imposição de quem quer que seja. Somos livres para pensar e agir segundo a consciência bíblica. O melhor para o meu município, estado ou nação não pode estar condicionado àquilo que acho ser bom para mim ou para o meu grupo religioso, mas para todos. Deus não é partidarista, Ele se importa com todos, desde o crente fiel ao ateu. Líderes honestos não dizem em quem votar, mas ensinam ao seu rebanho a fazer a melhor escolha pensando no coletivo e não em suas preferências individuais.
Não tenho muitos motivos para sorrir com os rumos da igreja como grupo religioso. O anti-evangelho tem tomado conta de nossas mensagens dominicais. A pregação tem deixado, a muito, de ser a Palavra para ser um apócrifo mal acabado dos desejos humanos. - “Ele é jovem”. Podem estar pensando alguns. Neófito no ministério que em sua utopia ainda não conseguiu se adequar ao evangeliques contemporâneo. Esta justificativa até parece plausível. Bem que gostaria que tudo isto que tenho presenciado não fosse verdade, mas infelizmente são poucos os que trilham o caminho do agápe. Peço a Deus uma mente livre para poder segui-Lo com inteireza de coração. Peço que a hipocrisia não encontre abrigo em meu ministério, nem que a dureza corroa os alicerces de minha fé. Os tempos são tenebrosos, terrivelmente maus.
Concluo dizendo que basta. Onde estão os homens e mulheres leais a Cristo? A igreja precisa se reformar, para tanto, é necessário coragem de dizer não a tudo de errado que estamos presenciando. Profetas calados que não tem mais sede de justiça são pedras de tropeço na edificação de um novo tempo. Como estamos nos preparando para a volta de Jesus? Não podemos nos deixar enganar, a santificação é um processo inquestionável na peregrinação rumo a terra prometida. Biblicamente esta terra a qual faço menção não é um condomínio fechado ou um luxuoso apartamento de cobertura, mas a celestial, que foi preparada pelo próprio Senhor Jesus.
O Corpo de Cristo é bem maior que líderes denominacionais e denominações. Ele é bem maior que eu e que você, portanto, não precisamos nos preocupar demasiadamente, apenas esperar o julgamento que Deus um dia trará. Apesar de tudo, como diz o escritor Larry Crabb em seu livro - O lugar mais seguro da terra - a igreja sempre continuará sendo o oásis neste mundo em pecado. Por enquanto, não deixemos sabotar nossa fé, porque a igreja já está sendo sabotada a muito tempo.
Participe dando sua opinião sobre o que acabou de ler. Quando expressamos nossas opiniões nos tornamos agentes ativos de nossa própria história. Não se permita ficar calado(a) diante destes acontecimentos.
Pr. Eurico C. G. da Costa
preuricodacosta@ig.com.br
Pastor na Sétima Igreja Batista de Campos

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Buracos negros

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:BlackHole.jpg Concepção artística de um buraco negro (NASA).

Em 1704, em sua obra Optiks, Newton sugeriu que a luz era formada de partículas, cujo movimento poderia ser explicado pela mecânica desenvolvida por ele. Ainda no século XVII, entretanto, o holandês Christian Huygens defendeu a ideia de que a luz seria uma onda, como o som.
Seria justo pensar que, no caso da luz ser formada de partículas, elas seriam atraídas pela gravidade. Assim, a luz deveria ter uma velocidade mínima para “fugir” de um determinado campo gravitacional, como todos os outros corpos – tal velocidade é conhecida como velocidade de escape. A da Terra, por exemplo, é de 11 km/s.
No século XVII, Roemer chegou a um valor finito para a velocidade da luz: 225.000 km/s (o valor aceito atualmente é de 300.000 km/s). Uma das consequências de a luz ter uma velocidade finita seria que, se existisse no Universo um objeto cuja densidade provocasse uma velocidade de escape maior que a da luz, seria impossível que ela saísse da sua atração gravitacional. Se esse objeto fosse uma estrela, a luz gerada por ela voltaria para si própria, e se a olhássemos da Terra, veríamos apenas uma região negra no espaço.
A primeira descrição explícita de tal proposta pode ser creditada a John Michell (1783). O marquês de Laplace, de maneira independente, descreveu tal fenômeno nas duas primeiras edições de seu livro O Sistema do Mundo. Nas edições seguintes, no entanto, deixou essa proposta de fora – muito provavelmente devido à bem sucedida experiência do inglês Thomas Young, que demonstrou o caráter ondulatório da luz.
Em 1915, Albert Einstein publicou sua Teoria da Relatividade Geral, TRG, que, entre outras coisas, prevê que a luz deveria sofrer desvios ao se aproximar de campos gravitacionais intensos, como o provocado pelo Sol. A suposta comprovação dessa hipótese ocorreu em 1919, quando foram feitas fotografias durante um eclipse solar na cidade cearense de Sobral.
Apenas um ano depois da publicação da TRG, Karl Schwarzschild utilizou essa teoria para obter soluções matemáticas que apontavam para o que hoje pode ser chamado de buraco negro. Inicialmente, este resultado não convencia o próprio Einstein; pare ele, a solução obtida não tinha uma realidade física.
Em 1939, o norte-americano Robert Oppenheimer usou a TRG para descrever o que aconteceria com a luz em um campo gravitacional intenso o suficiente para provocar seu desvio: ao passar por uma estrela bem mais densa que o Sol, a luz seria encurvada em direção à ela. Quando a densidade da estrela fosse grande suficiente, a trajetória da luz seria tão perturbada em direção à estrela que ela não conseguiria mais escapar deste campo gravitacional, ficando “aprisionada” dentro dele ao atravessar uma espécie de fronteira. Esse limite de aproximação de um corpo celeste é conhecido como horizonte de eventos, termo cunhado em 1950 pelo austríaco Wolfgang Rindler.
Como, de acordo com a Teoria da Relatividade Restrita, TRR, de Einstein, publicada em 1905, nada pode viajar mais rápido que a luz, então nenhum corpo poderia fugir deste tipo de campo gravitacional; tudo que passasse pela vizinhança da estrela seria tragado por seu incrível poder de curvar o espaço-tempo.
Como nada poderia sair de dentro do campo gravitacional, quando a região em questão fosse observada da Terra, nós veríamos apenas um espaço escuro – o termo buraco negro, entretanto, só seria cunhado em 1969, pelo norte-americano John Wheeler.
Muito se aprendeu sobre esses objetos celestes desde o artigo de Michell, inclusive que eles são mais comuns do que poderiam imaginar os pioneiros em sua proposta de existência. Recentemente, um satélite mapeou uma pequena região do céu e identificou mais de 1.500 candidatos a buracos negros.
Nem todos os buracos negros são iguais. Eles podem ser divididos em dois grupos, dependendo de sua origem e massa: os buracos negros estelares - com massas de até sete vezes a massa do nosso Sol - e os supermaciços, que se acredita estarem no centro de galáxias e possuírem massa da ordem de milhões de vezes a massa do Sol.
Para entender a origem dos buracos negros estelares, temos que retornar à década de 1930. No fim desta década, o alemão Hans Bethe propôs um possível mecanismo para a grande quantidade de energia liberada pelo Sol e outras estrelas - tal mecanismo hoje é conhecido como fusão nuclear. A grosso modo, consiste na fusão de átomos menores (como os de hidrogênio) em átomos maiores (como os de hélio), liberando, como resultado, a energia que recebemos do Sol e das outras estrelas.
As estrelas se mantêm estáveis durante um bom tempo, apesar de sua massa tender a se colapsar devido à atração gravitacional. Este colapso só não ocorre porque a energia liberada pelas reações de fusão equilibra a força gravitacional. Porém, quando o nível de hidrogênio diminui além de um limite, começa a haver um desequilíbrio entre as duas forças.
Quando uma estrela não faz parte de um sistema binário ou múltiplo, seu destino só depende de sua massa inicial. Se ela estiver entre 0,8 e 10 vezes a massa do nosso Sol (massa solar), quando o combustível diminui até um ponto crítico, a estrela se expande na forma de uma super gigante, ejetando grande parte de sua massa em uma nebulosa planetária. O que resta é conhecido como anã branca, um corpo com massa da ordem de 0,6 massas solares e raio em torno de 10.000 km.
Quando a massa inicial da estrela é de 10 a 25 massas solares, após o seu hidrogênio diminuir até o ponto crítico, a estrela explode em uma supernova. O que fica em seu lugar é chamado de estrela de nêutrons, que tem massa de aproximadamente 1,4 vezes a massa do Sol e raio na ordem de 20 km.
Finalmente, quando a massa da estrela inicial for maior que 25 vezes a massa do Sol, após explodir em uma supernova, ela se torna um buraco negro estelar – que tem sua origem em uma estrela muito maciça. Este tipo de buraco negro tem massa de até 7 vezes a massa do Sol e seu horizonte de eventos é da ordem de 1 km.
A descrição física dos buracos negros e dos efeitos causados por eles no espaço-tempo pode ser vista com detalhes no artigo Buracos nem tão negros assim, escrito por Felipe Damasio e Sabrina Moro Villela Pacheco, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. O texto, publicado na Física na Escola, v. 10, n. 1, 2009, apresenta uma abordagem histórica dos conceitos relacionados aos buracos negros, desde as primeiras ideias sobre o tema até as recentes descobertas do cientista inglês Stephen Hawking e as atuais pesquisas no LHC. Entre as curiosidades encontradas no artigo, uma fábula que ensina como resgatar uma pessoa de um buraco negro!
A Física e a poesia de Murilo Mendes

Retrato de Murilo Mendes, por Ismael Nery (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ismael_Nery_-_Retrato_de_Murilo_Mendes,_1922.jpg) Retrato de Murilo Mendes,
por Ismael Nery

“Ciência e poesia pertencem à mesma busca imaginativa, embora ligadas a domínios diferentes de conhecimento e valor. A visão poética cresce da intuição criativa, da experiência humana singular e do conhecimento do poeta. A ciência gira em torno do fazer concreto, da construção de imagens comuns, da experiência compartilhada e da edificação do conhecimento coletivo sobre o entorno material”.
Dentre as inúmeras aproximações entre ciência e poesia, a obra de Murilo Mendes (1901 – 1975) foi escolhida por Ildeu de Castro Moreira, Constança Hertz e Marco Lucchesi para ilustrar as relações entre esses dois ramos do conhecimento no artigo “Murilo Mendes: Janelas para o caos”, publicado na revista Poesia Sempre, no 4, 23-30, 2001 – e de onde foi retirado o trecho reproduzido acima.
Um dos temas que surgem na obra do poeta mineiro e que são comentados pelos autores é a idéia de “caos determinístico”, referência à propriedade de sistemas que apresentam grande sensibilidade a pequenas variações nas suas condições iniciais. No poema "A Liberdade" – de “As Metamorfoses” (1944) –, Murilo Mendes deixa transparecer algumas ideias ligadas ao conceito de caos quando fala da “ordem da anarquia eterna”:
Um buquê de nuvens:
O braço duma constelação
Surge entre as rendas do céu.
O espaço transforma-se a meu gosto,
É um navio, uma ópera, uma usina,
Ou então a remota Persépolis.
Admiro a ordem da anarquia eterna,
A nobreza dos elementos
E a grande castidade da Poesia.
Dormir no mar! Dormir nas galeras antigas!
Sem o grito dos náufragos,
Sem os mortos pelos submarinos.
O artigo ainda faz referência às possíveis relações entre a poesia de Murilo Mendes e os conceitos científicos de tempo, determinismo, entropia e sistemas não lineares. A percepção do tempo pelo poeta, que acompanha a ruptura nos conceitos de espaço e tempo absolutos trazida pela teoria da relatividade no início do século XX, pode ser observada em "Indicação" – de “Parábola” (1946-1952):
Sim: o abismo oval atrai meus pés.
Leopardo familiar, a manhã se aproxima.
Preciso conhecer em que universo estou
E a que translações de estrelas me destinam.
Em três épocas me observo sustentado:
Na pré-história, no presente e no futuro.
Trago sempre comigo uma morte de bolso.
Assalta-me continuamente o novo enigma
E uma audácia imprevista me pressinto.
Arrasto minha cruz aos solavancos,
Tal profunda mulher amada e odiada,
Sabendo que ela condiciona minha forma:
E o tempo do demônio me respira.
Gentilíssima dama eternidade
Escondida nas raízes do meu ser,
Campo de concentração onde se dança,
Beatitude cortada de fuzilamentos...
Retiram-se o véu que sei de mim.
Ontem sou, hoje serei, amanhã fui.